sábado, 25 de junho de 2016

Cerebelo: Anatomia e Divisões

1.0GENERALIDADES 
    0 cerehelo, órgão do sistema nervoso suprasegmentar. deriva da parte dorsal do metencé- falo e fica situado dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do tecto do IV ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do lobo occipital do cérebro por uma prega da dura-máter denominada tenda do cerebelo. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior e à ponte e mesencéfalo pelos pedúnculos cerebelares médio e superior, respectivamente. As funções do cerebelo, relacionadas com o equilíbrio e a coordenação dos movimentos, serão estudadas no Capítulo 24, juntamente com sua estrutura e suas conexões.

2.0 — ALGUNS ASPECTOS ANATÔMICOS
               

 Anatomicamente, distingue-se no cerebelo uma porção ímpar e mediana, o vermis, ligado a duas grandes massas laterais, os hemisférios cerebelares. O vermis é pouco separado dos hemisférios .ha face superior do cerebelo, o que não ocorre na face inferior, onde dois sulcos bem evidentes o separam das partes laterais. A superfície do cerebelo apresenta sulcos de direção predominantemente transversal, que delimitam lâminas finas denominadas folhas do cerebelo. Existem também sulcosmais pronunciados, as fissuras do cerebelo, que delimitam lóbulos, cada um deles podendo conter várias folhas. Esta disposição, visível na superfície do cerebelo, é especialmente evidente em secções do órgão, que dão também uma idéia de sua organização interna. Vê- se assim que o cerebelo é constituído de um centro dc substância branca, o corpo medular do cerebelo, dc onde irradiam as lâminas brancas do cerebelo, revestidas externamente por uma tina camada de substância cinzenta, o córtex cerebelar. O corpo medular e o cerebelo com as lâminas brancas que dele irradiam, quando vistas em cortes sagitais, receberam o nome de árvore da vida. No interior do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta, que são os núcleos centrais do cerebelo: denteado, emboliforme, globoso e fastigial. Destes, pelo menos o núcleo denteado é facilmente identificável, mesmo macroscopicamente, em secções horizontais do cerebelo. 

3.0 — LÓBULOS E FISSURAS 

 
A divisão do cerebelo em lóbulos não tem nenhum significado funcional e sua importância é apenas topográfica. A nomenclatura dos lóbulos e fissuras do cerebelo é bastante confusa, havendo considerável divergência entre os autores. Os lóbulos recebem denominações diferentes no vermis e nos hemisférios. A cada lóbulo do vermis correspondem dois nos hemisférios , conforme indicado na Tabela 6.1, onde estão assinaladas também as fissuras que os separam. O estudo dos lóbulos do cerebelo deve ser feito de preferência em peças em que o vermis é seccionado sagitalmente, o que permite uma identificação mais fácil das fissuras *. Um bom sistema consiste em separar as fissuras com pedaços de cartolina. Algumas considerações poderão ser úteis para a identificação de certos lóbulos. A língula está quase sempre aderida ao véu medular superior. O folium consiste apenas de uma folha do vermis. Para encontrá-lo, pode-se acompanhar até o vermis a fissura horizontal, sempre muito evidente, e o folium estará adiante dela. Um lóbulo importante é o flóculo, situado logo abaixo do ponto em que o pedúnculo cerebelar médio penetra no cerebelo, próximo ao nervo vestíbulo-coclear. Liga-se ao nódulo, lóbulo do vermis, pelo pedúnculo do flóculo. As tonsilas são bem evidentes na face inferior do cerebelo, projetando-se medialmente sobre a face dorsal do bulbo. Esta relação é importante, pois em certos casos de hipertensão craniana as tonsilas podem comprimir o bulbo com graves conseqüências. Isto decorre, por exemplo, de acidente nas punções lombares, quando a retirada do liquor diminui subitamente a pressão no espaço sub aracnóideo da medula. Neste caso, estando aumentada a pressão intracraniana, as tonsilas podem ser deslocadas caudalmente, penetrando no forame magno e comprimindo o bulbo 

. 4.0 —DIVISÃO ONTOGENETICA E FILOGENÉTICA DO CEREBELO
  A divisão puramente anatômica em vermis e hemisférios cerebelares é inadequada do ponto de vista funcional e clínico. Surgiram, pois, várias tentativas de se agruparem os lóbulos cerebelares em áreas maiores, lobos, que tivessem significação funcional mais evidente. A divisão proposta por Larsell baseia-se principalmente na ontogênese do cerebelo e leva em conta o fato de que a primeira fissura que aparece durante o desenvolvimento do órgão é a póstero-lateral. Assim, ela divide o cerebelo em duas partes muito desiguais: o lobo flóculo-nodular, formado pelo flóculo e pelo nódulo; e o corpo do cerebelo, formado pelo resto do órgão. A seguir, aparece a fissura prima, que divide o corpo do cerebelo em lobo anterior e lobo posterior . Temos a seguinte divisão divisão   ontogenética corpo do cerebelo lobo flóculo-nodular lobo anterior lobo posterior a) De grande importância e a divisão filo gené tica do cerebelo, cuja compreensão exige o conhecimento de alguns aspectos da filogênese do órgão. Os estudos de anatomia comparada indicam a existência de três fases na filogênese do cerebelo, as quais podem ser correlacionadas com a complexidade de movimentos realizados pelo grupo de vertebrados característico de cada fase: \- fase — a primeira fase da evolução do cerebelo surgiu com o aparecimento dos vertebrados mais primitivos, os ciclóstomos, como a lampreia. Estes animais são desprovidos de membros e têm movimentos ondulatórios muito simples, havendo, entretanto,' necessidade de se manterem em equilíbrio no meio líquido. Para isso, o cerebelo recebe impulsos dos canais sémicirculares (localizados na parte vestibular do ouvido interno), que informam sobre a posição do animal e permitem ao cerebelo coordenar a atividade muscular, de modo a manter o animal em equilíbrio. O cerebelo surgido nesta fase se chama arquicerebelo, tem conexões vestibulares e é também denominado cerebelo vestibular; b) 2- fase — o cerebelo da segunda fase surgiu com os peixes. Estes já possuem membros (nadadeiras) e são capazes de realizar movimentos mais elaborados que os ciclóstomos. Neles surgiram, pela primeira vez, receptores especiais denominados fusos neuromusculares e órgãos neurotendíneos, que originam impulsos nervosos denominados proprioceptivos, os quais, após um trajeto pela medula espinhal e bulbo, chegam ao cerebelo, levando informações sobre o grau de contração dos músculos. Estas informações são importantes para a regulação do tônus muscular e da postura do animal. A parte do cerebelo que surgiu nesta fase, adicionando-se ao arquicerebelo, é denominada paleocerebelo. O paleocerebelo tem conexões principalmente com a medula espinhal, sendo também denominado cerebelo espinhal; c) 3â fase — o cerebelo de terceira fase surgiu com os mamíferos que desenvolveram a capacidade de utilizar os membros para movimentos delicados e assimétricos, os quais requerem uma coordenação nervosa muito elaborada. Concomitantemente houve grande desenvolvimento do córtex cerebral, com o qual o cerebelo passou a manter amplas conexões. A parte do cerebelo que surgiu nesta fase de sua evolução, adicionando-se ao arqui e ao paleocerebelo, é denominada neocerebelo. O neocerebelo relaciona-se com o controle de movimentos finos e, em vista de suas conexões com o córtex cerebral, é denominado também cerebelo cortical. Sabemos que no sistema nervoso as partes que sucessivamente vão surgindo durante a evolução continuam a existir nos animais mais avançados, onde, de um modo geral, mantém as mesmas conexões e funções que tinham nos ancestrais. Assim, o cerebelo do homem é formado de três partes: arqui, páleo e neocerebelo, que tem aproximadamente as mesmas conexões e funções que vimos durante o estudo da fílogênese do órgão. O arquicerebelo corresponde ao lobo flóculo-nodular, o paleocerebelo ao lobo anterior mais a pirâmide e a úvula, enquanto o neocerebelo corresponde ao resto do lobo posterior. Deste modo, a maior parte do neocerebelo se localiza nos hemisférios, enquanto o paleocerebelo é predominantemente vermiano. Como será visto no Capítulo 24, a divisão filogenética do cerebelo é importante para a compreensão das conexões, funções e lesões do órgão. Convém, entretanto, assinalar que, embora a maioria dos autores admita esta divisão, existem controvérsias quanto à exata delimitação de cada parte.

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