2. — SINAPSES
Os neurônios, principalmente através dc suas
terminações axônicas. entram em contato com
outros neurônios, passando-lhes informações.
Os locais de tais contatos são denominados
sinopses, ou, mais precisamente, sinapses interneuronais.
No sistema nervoso periférico, terminações
axônicas podem relacionar-se também
com células não neuronals ou efetuadoras, como
células musculares (esqueléticas, cardíacas
ou lisas) e células secretoras (em glândulas
salivares, por exemplo), controlando suas fun-
ções. Os termos sinapses neuroefetuadoras e
junções neuroefetuadoras são usados para denominar
tais contatos.
Quanto à morfologia e ao modo de funcionamento,
reconhecem-se dois tipos de sinapses:
sinapses elétricas e sinapses químicas.
2.1 — SINAPSES ELÉTRICAS
São raras em vertebrados e exclusivamente
interneuronais. Nessas sinapses, as membranas
plasmáticas dos neurônios envolvidos entram
em contato, conservando espaço entre elas de
apenas 2-3nm. No entanto, há acoplamento iônico, isto é, ocorre comunicação entre os dois
neurônios, através de canais iônicos concentrados
em cada uma das membranas em contato.
Esses canais projetam-se no espaço intercelular,
justapondo-se de modo a estabelecer comunicações
intercelulares, que permitem a passagem
direta de pequenas moléculas, como íons, do
citoplasma de uma das células para o da outra. Tais junções servem para sincronizar
a atividade de grupos de células e são encontradas
em outros tecidos, como o epitelial, muscular
liso e cardíaco, onde recebem o nome de
junção de comunicação. Ao contrário das sinapses
químicas, as sinapses elétricas não são
polarizadas, ou seja, a comunicação entre os
neurônios envolvidos se faz nos dois sentidos.
2.2 — SINAPSES QUÍMICAS
A grande maioria das sinapses interneuronais
e todas as sinapses neuroefetuadoras são sinapses químicas, ou seja, a comunicação entre
os elementos em contato depende da liberação
de substância química, denominada neurotransmissor.
2.2.1 — Neurotransmissores e Vesículas
Sinápticas
Entre os neurotransmissores conhecidos estão
a acetileolina, certos aminoâcidos como a
glicina, o glutamato, o aspartate), o ácido gama-amino-butírico
ou GABA e as monoaminas.
dopamina, noradrenalina, adrenalina e histamina.
Sabe-se hoje que muitos peptídeos também
podem funcionar como neurotransmissores,
como por exemplo a substância P, em neurônios
sensitivos, e os opióides. Esses últimos
pertencem ao mesmo grupo químico da morfina
e entre eles estão as endorfinas e as encefalinas.
Acreditava-se que cada neurônio sintetizasse
apenas um neurotransmissor. Hoje sabe-se que
pode haver coexistência de neurotransmissores
clássicos (acetileolina, monoaminas e aminoâ-
cidos) com peptídeos*.
As sinapses químicas caracterizam-se por
serem polarizadas, ou seja, apenas um dos dois
elementos em contato, o chamado elemento
pré-sináptico, possui o neurotransirussor.Este sinapses químicas, ou seja, a comunicação entre
os elementos em contato depende da liberação
de substância química, denominada neurotransmissor. é armazenado em vesículas especiais, denominadas
vesículas sinápticas, identificáveis apenas
à microscopia eletrônica, onde apresentam
morfologia variada. Os seguintes tipos de vesí-
culas são mais comuns: vesículas agranulares
(Fig. 3.8), com 30-60nm de diâmetro e com
conteúdo elétron-lúcido (aparecem como se estivessem
vazias); vesículas granulares pequenas
(Figs. 3.7 e 13.3), de 4()-7()nm de diâmetro,
apresentam conteúdo elétron-denso; vesículas
granulares grandes (Figs. 3.7 e 11.6), com 70-
150nm de diâmetro, também com conteúdo elé-
tron-denso delimitado por halo elétron-lúcido;
vesículas opacas grandes, com 80-lS0nm de
diâmetro e conteúdo elétron-denso homogêneo
preenchendo toda a vesícula.
O tipo de vesícula sinâptica predominante no
elemento pré-sináptico depende do neurotransmissor
que o caracteriza. Quando o elemento
pré-sináptico libera, como neurotransmissor
principal, a acetileolina ou um aminoácido, ele
apresenta, predominantemente, vesículas agranulares.
As vesículas granulares pequenas contêm
monoaminas; já as granulares grandes possuem
monoaminas e/ou peptídeos e as opacas
grandes, peptídeos.
Durante muito tempo, acreditou-se que as
vesículas sinápticas eram produzidas apenas no
pericário, sendo levadas até as terminações axônicas através do fluxo axoplasmático. Sabe-se
hoje que elas podem também ser produzidas na
própria terminação axônica por brotamento do
retículo endoplasmático agranular**.
2.2.2 — Sinapses Químicas Interneuronais
Na grande maioria dessas sinapses, uma terminação
axônica entra em contato com qualquer
parte dc outro neurônio, formando-se, assim,
sinapses axodendríticas, axossomáticas
(com o pericário) ou axoaxonic as. No entanto,
é possível que um dendrito ou mesmo o corpo
celular seja o elemento pré-sináptico. Assim,
podem ocorrer sinapses dendrodendríticas e,
mais raramente, sinapses dendrossomáticas,somatossomâticas, somatodendríticas e mesmo
somatoaxônicas.
Nas sinapses em que o axônio é o elemento
pré-sináptico, os contatos se fazem não só através
de sua ponta dilatada, denominada botão
terminal, mas também com dilatações que podem
ocorrer ao longo de toda a sua arborização
terminal, os botões sinápticos de passagem. Quando os axônios são curtos, podem
emitir botões ao longo de praticamente
todo o seu comprimento. No caso de sinapses
axodendríticas, o botão sináptico pode entrar
em contato com uma pequena projeção dendrítica
em forma de espinho, a espícula dendriticas.As terminações axônicas de alguns neurô-
nios, como os que usam uma monoamina como
neurotransmissor (neurônios monoaminérgicos),
são varicosas, isto é, apresentam
dilatações simétricas e regulares, conhecidas
como varicosidades, que têm o mesmo significado
dos botões, ou seja, são locais pré-sinápticos
onde se acumulam vesículas sinápticas.
Uma sinapse química interneuronal compreende
o elemento pré-sináptico, que armazena e
libera o neurotransmissor, o elemento pós-sináptico,
que contém receptores para o neurotransmissor
e uma fenda sináptica, que separa
as duas membranas sinápticas. Para descrição,
tomemos uma sinapse axodendrítica, visualizada
em microscópio eletrônico. O
elemento pré-sináptico é, no caso, um botão
terminal que contém em seu citoplasma quantidade
apreciável de vesículas sinápticas agranulares.
Além disso, encontram-se algumas mitocôndrias,
sáculos ou túbulos de retículo endoplasmático
agranular, neurotúbulos, neurofilamentos
e microfilamentos de actina. A membrana do
botão, na face em aposição à membrana do
dendrito, chama-se membrana pré-sináptica.
Sobre ela se arrumam, a intervalos regulares,
estruturas protéicas sob a forma de projeções
densas que em conjunto formam a densidade
pré-sináptica. As projeções densas têm disposição
triangular e se unem por delicados filamentos,
de modo que a densidade pré-sináptica
é, na verdade, uma grade em. cujas malhas as
vesículas sinápticas agranulares se encaixam. Desse modo, essas vesículas sinápticas
se aproximam adequadamente da membrana
pré-sináptica para com ela se fundirem
rapidamente, liberando o neurotransmissor por
um processo de exocitose. A densidade pré-sináptica
corresponde à zona ativa da sinapse,
isto é, local no qual se dá, de maneira eficiente,
a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica.
Sinapses com zona ativa são, portanto,
direcionadas.
A fenda sináptica compreende espaço de
20-30nm que separa as duas membranas em
oposição. Na verdade, esse espaço é atravessado
por moléculas que mantêm firmemente
unidas as duas membranas sinápticas.
O elemento põs-sináptico é formado pela
membrana pós-sináptica e a densidade pós-sináptica. Na membrana inserem-se os receptores específicos para o neurotransmissor.
Esses receptores são formados por proteínas integrais que ocupam toda a espessura da
membrana e se projetam tanto do lado externo
como do lado citoplasmático da membrana. No
citoplasma, junto à membrana, concentram-se
moléculas relacionadas com a função sináptica.
Tais moléculas, juntamente com os receptores,
provavelmente formam a densidade pós-sináptica.
A transmissão sináptica decorre da união
do neurotransmissor com seu receptor na membrana
pós-sináptica.
2.2.3 — Sinapses Químicas Neuroefetuadoras
Essas sinapses, também chamadas junções
neuroefetuadoras, envolvem os axônios dos
nervos periféricos e uma célula efetuadora não
neuronal. Se a conexão se faz com células musculares
estriadas esqueléticas, tem-se uma jun-
ção neuroefetuadora somática; se com células
musculares lisas ou cardíacas ou com células
glandulares, tem-se uma junção neuroefetuadora
visceral. A primeira compreende as placas
motoras, onde, em cada uma, o elemento pré-
sináptico é terminação axônica de neurônio motor
somático, cujo corpo se localiza na coluna
anterior da medula espinhal ou no tronco encefálico.
As junções neuroefetuadoras viscerais são os contatos das terminações nervosas dos
.neurônios do sistema nervoso autônomo simpá-
tico e parassimpático, cujos corpos celulares se
localizam nos gânglios autonômicos.
As placas motoras são sinapses direcionadas,
ou seja, em cada botão sináptico de cada placa
há zonas ativas representadas, nesse caso, por
acúmulos de vesículas sinápticas junto a barras
densas que se colocam a intervalos sobre a
membrana pré-sináptica; densidades pós-sinâpticas
com disposição característica também
ocorrem. As junções neuroefetuadoras
viscerais, por sua vez, não são direcionadas,
ou seja, não apresentam zonas ativas (Fig. 3.7)
e densidades pós-sinápticas As junções neuroefetuadoras
serão estudadas, com mais detalhes adiante.
— Mecanismo da Transmissão
Sináptica
Quando o impulso nervoso atinge a membrana
do elemento pré-sináptico, origina pequena
alteração do potencial de membrana capaz de
abrir canais de cálcio, o que determina a entrada
desse íon. O aumento de íons cálcio no interior
do elemento pré-sináptico provoca uma série de
fenômenos. Alguns deles culminam com a fusão
de vesículas sinápticas com a membrana pré-sináptica*. Ocorre, assim, a liberação de
neurotransmissor na fenda sináptica e sua difusão,
até atingir seus receptores na membrana
pós-sináptica. Um receptor pode ser, ele pró-
prio, um canal iônico, que se abre quando o
neurotransmissor se liga a ele (canal sensível a
neurotransmissor). Um canal iônico deixa passar
predominantemente ou exclusivamente um
dado íon. Se esse íon normalmente ocorrer em
maior concentração fora do neurônio, como o
Na +
e o Cl', há entrada. Se sua concentração for
maior dentro do neurônio, como no caso do K +
,
há saída. Evidentemente, tais movimentos iônicos
modificam o potencial de membrana,
causando uma pequena despolarização, no caso
de entrada de Na +
, ou uma hiperpolarização, no
caso de entrada de Cl" (aumento das cargas
negativas do lado de dentro) ou de saída de K +
(aumento da cargas positivas do lado de fora).
Exemplificando, o receptor A do neurotransmissor
GAB A é ou está acoplado a um canal de cloro. Quando ativado pelaligação com GABA ,
há passagem de Cl" para dentro da célula com
hiperpolarização (inibição). Já um dos receptores
da acetileolina, o chamado receptor nicotínico,
é um canal de sódio. Quando ativado, há
entrada de Na +
com despolarização (excitação).
Quando o receptor não é um canal iônico. sua
combinação com o neurotransmissor causa a formação,
no citoplasmado elemento pós-sináptico,
de uma nova molécula, chamada segundo mensageiro.
Esse segundo mensageiro é que efetuará
modificações na célula pós-sináptica**.
Cada neurônio pode receber de 1.000 a
10.000 contatos sinápticos em seu corpo e dendritos.
Os potenciais graduáveis pós-sinápticos
excítatórios e inibitórios devem ser somados ou
integrados. A região integradora desses potenciais
é o cone de implantação do axônio ou está
próxima dele. Se na zona gatilho chegar uma
voltagem no limiar de excitabilidade do neurô-
nio, por exemplo, despolarização de 15mV, gera-se
um potencial de ação.2.2.5 — Inativação do Neurotransmissor
A perfeita função das sinapses exige que o
neurotransmissor seja rapidamente removido
da fenda sináptica. Do contrário, ocorreria excitação
ou inibição do elemento pós-sináptico
por tempo prolongado. A remoção do neurotransmissor
pode ser feita por ação enzimática.
É o caso da acetileolina, que é hidrolisada pela
enzima acetileolinesterase em acetato e colina.
A colina é imediatamente captada pela terminação nervosa colinérgica servindo como substrato
para síntese de nova acetileolina pela pró-
pria terminação. Provavelmente, proteases são
responsáveis pela remoção dos peptídeos que
funcionam como neurotransmissores ou neuromoduladores.
Já no caso das monoaminas e dos
aminoácidos, o principal mecanismo de inativa-
ção é a recaptação do neurotransmissor pela
membrana plasmática do elemento pré-sináptico,
através de mecanismo ativo e eficiente
(bomba de captação). Essa captação pode ser
bloqueada por drogas. Assim, a captação de
monoaminas é facilmente bloqueada por cocaí-
na, causando distúrbios psíquicos, porque a monoamina
permanecerá acessível aos receptores
de maneira continuada. Uma vez dentro da terminação
nervosa, o neurotransmissor pode ser
reutilizado ouinativado. Exemplificando, quando
uma monoamina é captada, parte é bombeada
para dentro de vesículas e parte é metabolizada
pela enzima monoaminaoxidase.
3.0— NEUROGLIA
Tanto no sistema nervoso central como no
sistema nervoso periférico, os neurônios relacionam-se
com células coletivamente denominadas
neuroglia, glia ou gliócitos. São as células
mais freqüentes do tecido nervoso, podendo a
proporção entre neurônios e células gliais variar
de 1:10a 1:50.
3.1 — NEUROGLIA DO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL
No sistema nervoso central, a neuroglia compreende:
astrócilos. oligodendrócitos. microgliócitos e um tipo de glia com disposição epitelial,
as células ependimárias. Essas células,
com provável exceção dos microgliócitos, derivam-se
do neuroectoderma. Os astrócitos e oligodendrócitos
são coletivamente denominados
como macroglia e os microgliócitos como microglia.
A macroglia e a microglia colocam-se
entre os neurônios e possuem massa citoplasmática
distribuída principalmente em prolongamentos
que, à mieroscopia óptica, são visualizados
apenas com técnicas especiais, envolvendo,
por exemplo, impregnação pela prata
—Astrócitos
Seu nome vem da forma semelhante a estrela.
São abundantes e caracterizados por inú-
meros prolongamentos, restando pequena massa
citpplasmática ao redor do núcleo esférico ou
ovóide e vesiculoso . Reconhecem-se
dois tipos: astrócitos protoplasmáticos, localizados
na substância cinzenta, e astrócitos fibrosos,
encontrados na substância branca. Os primeiros
distinguem-se por apresentar prolongamentos
mais espessos e curtos que se ramificam
profusamente já os prolongamentos
dos astrócitos fibrosos são finos e longos e
ramificam-se relativamente pouco Ao microscópio eletrônico, os astrócitos apresentam
as organelas usuais, mas caracterizam-se pela riqueza em filamentos intermediários que, embora morfologicamente semelhantes
aos observados em outras células, são constituídos
por polipeptídeo específico da glia. Nos
astrócitos fibrosos, esses filamentos são mais
abundantes.
Ambos os tipos de astrócitos. através de expansões
conhecidas como pés vasculares, apóiam-se
em capilares sangüíneos . Seus
processos contatam também os corpos neuronals,
dendrites e axônios e, de maneira especial,
envolvem as sinapses, isolando-as. Têm, portanto,
funções de sustentação e_isplamento de
neurônios.
Os astrócitos são também importantes para a.
função neuronal, uma vez que participam do
controle dos níveis de potássio extraneuronal,
captando esse íon c, assim, ajudando na manutenção
de sua baixa concentração extracelular.
Compreendem o principal sítio de armazenagem
de glicogênio no sistema nervoso central,havendo evidências de que podem liberar glicose
para uso dos neurônios.
Após injúria, os astrócitos aumentam localmente
por mitoses e ocupam áreas lesadas à
maneira de cicatriz. Em caso de degeneração
axônica, adquirem função fagocítica ao nível
das sinapses, ou seja, qualquer botão sináptico
em degeneração é internalizado por astrócitos.
Na vida embrionária, precursores de astró-
citos que se estendem da superfície dos ventrí-
culos cerebrais à superfície do cérebro revestida
pela pia-máter fornecem arcabouço para a migração
de neurônios.
3.1.2 — Oligodendrócitos
São menores que os astrócitos e possuem
poucos prolongamentos , que também
podem formar pés vasculares. Em secções
histológicas, apresentam núcleo menor e mais condensado que o dos astrócitos Conforme
sua localização, distinguem-se dois tipos:
oligodendria to satélite ou perineuronal,
situado junto ao pericário e dendritos; e oligodendrócito
fascicular, encontrado junto às
fibras nervosas. Os oligodendrócitos fasciculares
são responsáveis pela formação da bainha
de mielinaem axônios do sistema nervoso central,
como será discutido no item 4.
3.1.3
— Microgliócitos
São células pequenas e alongadas com nú-
cleo denso também alongado e de contorno
irregular (Fig. 3.3); possuem poucos prolongamentos,
que partem das suas extremidades . São encontrados tanto na substância
branca como na cinzenta e apresentam funções
lagocíticas. Alguns autores acreditam que os
microgliócitos de tecido nervoso normal sejam apenas células pouco diferenciadas, capazes de
transformarem-se em astrócitos ou oligodendrócitos.
Entretanto, inúmeras evidências indicam
serem os microglióeitos de origem mesodérmica
ou, mais precisamente, de monóeitos,
eqüivalendo no sistema nervoso central a
um tipo de macrófago, com funções de remo-
ção, por fagocitose, de células mortas, detritos
e microorganismos invasores. Aumentam em
caso de injúria e inflamação, especialmente por
novo aporte de monóeitos, vindos pela corrente
sangüínea. Nesse caso, são denominados microgliócitos
reativos, podendo estar repletos de
vacuoles digestivos, contendo restos celulares.
3.1.4 — Células Ependimárias
São remanescentes do neuroepitélio embrionário,
sendo coletivamente designadas epêndima
ou epitélio ependimário. São células cuboidais
ou prismáticas que forram, como epitélio de revestimento simples, as paredes dos
ventrículos cerebrais, do aqueducto cerebral e
do canal central da medula espinhal. Apresentam
em sua face luminal inúmeras microvilosidades e geralmente são ciliadas. Cada célula
ependimária possui um prolongamento ou processo
basal que penetra o tecido nervoso ao
redor das cavidades. Nos ventrículos cerebrais.
um tipo de célula ependimária modificada recobre
tufos de tecido conjuntivo, rico em capilares
sangüíneos, que se projetam da pia-máter, constituindo
os vlexos corióideòs, responsáveis pela
formação do líquido cérebro-espinhal.
3.2 — NEUROGLIA DO SISTEMA
NERVOSO PERIFÉRICO
A neuroglia periférica compreende as células
satélites ou anfícitos e as células de Schwann,
derivadas da crista neural. Na verdade, essas
células podem ser consideradas como um único
tipo celular que pode expressar dois fenótipos,
dependendo da parte do neurônio com que se
relaciona. Assim, as células satélites envolvem
pericários dos neurônios dos gânglios sensitivos
e do sistema nervoso autônomo: as células
de Schwann circundam os axônios, formando
seus envoltórios, quais sejam, a bainha de mielina
e o neurilema (Fig. 3.1). Ao contrário dosgliócitos do sistema nervoso central, apresentam-se
circundadas por membrana basal.
As células satélites geralmente são lamelares
ou achatadas dispostas de encontro aos neurô-
nios. Por isso, histologicamente, delas vêem-se
praticamente apenas os núcleos esferoidais ou
ovóides e relativamente densos. As
células de Schwann têm núcleos ovóides ou
alongados, com nucléolos evidentes. Em caso
de injúria de nervos, as células de Schwann
desempenham importante papel na regeneração
das fibras nervosas, fornecendo substrato que
permite o apoio c o crescimento dos axônios em
regeneração. Além do mais, nessas condições
apresentam capacidade fagocítica e podem secretar
fatores tróficos que, captados pelo axônio
e transportados ao corpo celular, vão desencadear
ou incrementar o processo de regeneração axônica. Para mais informações sobre o papel das
células de Schwann na regeneração de fibras nervosas
periféricas.
— FIBRAS NERVOSAS
Uma fibra nervosa compreende um axônio e,
quando presentes, seus envoltórios de origem
glial. Q principal envoltório das fibras nervosas
c a bainha de mielina, que funciona como isolantc
elétrico. Quando envolvidos por bainha de
mielina, os axônios são denominados fibras
nervosas mielínicas. Na ausência de mielina.
denominam-se fibras nervosas amielínicas.
Ambos os tipos ocorrem tanto no sistema nervoso
periférico como no central, sendo a bainha
de mielina formada por células dc Schwann, no
periférico, e por oligodendrócitos. no central.
No sistema nervoso central, distinguem-se,
macroscopicamente, as áreas contendo basicamente
fibras nervosas mielínicas e neuroglia
daquelas onde se concentram os corpos dos
neurônios, fibras amielínicas, além da neuroglia
Essas áreas são denominadas, respectivamente,
substância branca e substância cinzenta,
com base em sua cor in vivo. No sistema
nervoso central, as fibras nervosas reúnem-se
em feixes denominados tractos ou fascículos.
No sistema nervoso periférico também agrupam-se
em feixes, formando os nervos.
4.1 — FIBRAS NERVOSAS MIELÍNICAS
No sistema nervoso periférico, logo após
seus segmentos iniciais, cada axônio é circundado
por células de Schwann, que se colocam a
intervalos ao longo de seu comprimento. Nos
axônios motores e na maioria dos sensitivos,
essas células formam duas bainhas, a de mielina
e o neurilema. Para isso. cada célula de
Schwann forma um curto cilindro de mielina,
dentro do qual caminha o axônio; o restante
da célula fica completamente achatado sobre a
mielina, formando a segunda bainha, o neurilema.
Essas bainhas interrompem-se a intervalos
mais ou menos regulares para cada tipo de fibra.
Essas interrupções são chamadas de nódulos de
Ranvier e cada segmento dc
fibra situado entre eles é denominado internódulo . Cada intcrnódulo compreende a
região ocupada por uma célula de Schwann tem cerca de 1 a 1 ,5LUII de comprimento. Assim,
uma fibra mielínica de um nervo longo, como
o isquiático, que tem 1 a l,5m de comprimento,
apresenta aproximadamente mil nódulos
de Ranvier. Portanto, cerca de mil células de
Schwann podem participar da mielinização dc
um único axônio. Ao nível da arborização terminal
do axônio, a bainha de mielina desaparece,
mas o neurilema continua até as proximidades
das terminações nervosas motoras ou
sensitivas (Fig. 3.1).
No sistema nervoso central, prolongamentos
de oligodendrócitos provcem a bainha de miclina.
No entanto, os corpos dessas células ficam
a uma certa distância do axônio, de modo que
não há formação de qualquer estrutura semelhante
ao neurilema.
Por seu conteúdo predominantemente lipídico,
a preservação da mielina em cortes histológicos
exige métodos especiais como a fixa-
ção por tetróxido dc ósmio. Nesse caso, aparece
corada em negro. Nos cortes histológicos, de
rotina, os componentes lipídicos se dissolvem,
restando apenas uma trama de material protéico
no local da mielina (Fig. 3.12 B).
Ao microscópio eletrônico, a bainha de mielina
é formada por uma série dc lamelas concêntricas,
originadas dc voltas de membrana da
célula glial ao redor do axônio, como será detalhado
no próximo item.
A bainha de mielina, como a própria membrana
plasmática que a origina, é composta basicamente de lípidcs e proteínas, salientandos c
a riqueza em fosfólípides. Contudo, apresenta
componentes particulares a ela, como a proteína
básica principal da mielina, encontrada em
grande quantidade no sistema nervoso central*.
Por ser isolante, a bainha de mielina permite
condução mais rápida do impulso nervoso. Ao
longo dos axônios mielínicos, os canais de sódio e potássio sensíveis à voltagem encontram-,.
se apenas ao nível dos nódulos de Ranvier. A
condução do impulso nervoso é, portanto, saltatória,
ou seja, potenciais de ação só ocorrem
nos nódulos de Ranvier. Isso é possível dado o
caráter isolante da bainha de mielina, que permite
à corrente elctrotônica provocada por cada
potencial de ação percorrer todo o internódulo
sem extinguir-se. O comprimento do internóduIo e a espessura da bainha de mielina, embora
constantes para cada tipo de fibra, podem variar
de acordo com a espessura do axônio. Quanto
maiores o internódulo e as espessuras do axônio
e da mielina, mais rápida é a condução.
4.1.1 — Mielinização
O processo de formação da bainha de mielina,
ou mielinização, ocorre durante a última
parte do desenvolvimento fetal e durante o primeiro
ano pós-natal. A compreensão desse processo
ajuda a entender a estrutura dessa bainha.
As diversas etapas da mielinização no sistema
nervoso periférico podem ser seguidas na
Fig. 3.13, onde é representada uma das várias
células de Schwann que se colocam ao longo
dos axônios. Em cada célula de Schwann forma-se um sulco ou goteira que contém o axônio. Segue-se o fechamento dessa
goteira com formação de uma estrutura com
dupla membrana chamada mesaxônio Esse mesaxônio alonga-se e enrola-se
ao redor do axônio várias vezes , e
o citoplasma é expulso entre as voltas. Acontece,
então, aposição das faces citoplasmáticas
da membrana, com fusão, surgindo a linha densa
principal, ou periódica, contínua, facilmente
identificada nas secções transversais da bainha
de mielina à microscópia eletrônica por sua
elétron-densidade. As faces externas
da membrana do mesaxônio também se
encontram formando a linha densa menor, ou
interperíodo. O restante da célula de Schwann
(citoplasma e núcleo) forma o neurilema. O
mesaxônio persiste tanto do lado axônico (mesaxônio
interno), como do lado do neurilema
(mesaxônio externo). Em alguns pontos, formam-se
as incisuras de Schmidt-Lantermann,
que representam um conjunto de locais em que
o citoplasma não foi expulso quando da forma-
ção da linha densa principal. Terminado o processo ao longo de toda a fibra, reconhecem-se
os nódulos de Ranvier e os internódulos.
No sistema nervoso central, o processo de
mielinização é essencialmente similar ao que
ocorre na fibra nervosa periférica, com a diferença
de que são os processos dos oligodendrócitos
fasciculares os responsáveis pela formação
de mielina. A Fig. 3.14 mostra a relação
de um oligodendrócito com vários axônios que
ele mieliniza. Ao contrário do que ocorre com
a célula de Schwann, um mesmo oligodendrócito
pode prover internódulos para 20-30
axônios. Cada nódulo de Ranvier, em fibras
nervosas do sistema nervoso central, representa
então o intervalo entre dois prolongamentos de
oliogodendrócito.
4.2 — FIBRAS NERVOSAS
AMIELÍNICAS
No sistema nervoso periférico, há fibras nervosas
do sistema nervoso autônomo (as fibras
pós-ganglionares) e algumas fibras sensitivas muito finas, que se envolvem por células de
Schwann (neurilema), sem que haja formação
de mielina. Cada célula de Schwann nessas
fibras pode envolver em invaginações de sua
membrana até 15 axônios. No sistema nervoso
central, as fibras amielínicas não apresentam
envoltórios verdadeiros, ou seja, jamais uma
célula glial envolve um axônio, à semelhança
do que ocorre no periférico. Prolongamentos de
astrócitos podem, no entanto, tocar os axônios
amielínicos.
As fibras amielínicas conduzem o impulso
nervoso mais lentamente, pois os conjuntos de
canais de sódio e potássio sensíveis à voltagem
não têm como se distanciar, ou seja, a ausência
de mielina impede a condução saltatória.
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