Fisiologia Respiratória 4
A função da respiração é essencial à
manutenção da vida e pode ser definida,
de um modo simplificado, como uma troca
de gases entre as células do organismo e
a atmosfera. A respiração é um processo
bastante simples nas formas de vida
unicelulares, como as bactérias, por exemplo.
Nos seres humanos, depende da fun-
ção de um sistema complexo, o sistema respiratório.
Embora viva imerso em gases, o
organismo humano precisa de mecanismos
especiais do sistema respiratório, para isolar
o oxigênio do ar e difundí-lo no sangue
e, ao mesmo tempo, remover o dióxido de
carbono do sangue para eliminação na atmosfera.
O sistema respiratório pode ser representado,
simplificadamente, por uma membrana
com enorme superfície em que, de
um lado existe o ar atmosférico e do outro
lado o sangue venoso. Através da membrana,
ocorrem as trocas gasosas.
Quando o ar passa pelo nariz, ocorrem
três funções distintas nas cavidades nasais:
a. o ar é aquecido pelas superfícies dos
cornetos e do septo, que tem a área de cerca
de 160 cm2
; b. o ar é umedecido quase por
completo, mesmo antes de passar além do
nariz; c. o ar é filtrado. Essas funções, em
conjunto, denominam-se condicionamento
do ar das vias respiratórias superiores.
Os pulmões estão localizados na caixa
torácica à direita e à esquerda do mediastino,
ocupado pelo coração, grandes vasos,
traquéia, timo esôfago e troncos nervosos.
Os pulmões não são perfeitamente iguais.
O pulmão direito é maior e é dividido por
duas incisuras em três partes chamadas
lobos, o lobo superior, o lobo médio e o lobo
inferior. O pulmão esquerdo apresenta apenas
uma incisura, formando dois lobos, um
superior e outro inferior. Na face interna
de cada pulmão existe o hilo pulmonar,
através do qual penetram os brônquios e
as artérias pulmonares e emergem as veias
pulmonares.
O ar chega aos pulmões através das fossas
nasais ou da boca e sucessivamente,
atravessa o faringe, a laringe, a traquéia e
os brônquios, que se ramificam, penetrando
nos pulmões.
Externamente, cada pulmão é revestido
por uma membrana transparente, a
pleura, formada por dois folhetos separados
por um espaço virtualmente nulo.
Os brônquios se ramificam à partir do
hilo e cada ramo penetra num lobo. No interior
do lobo os brônquios voltam a se ramificar,
estabelecendo ligações com os diversos
segmentos que compõem cada lobo.
75
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
Dentro deles, os ramos brônquicos, já chamados
de bronquíolos, continuam a se ramificar
até formarem os diminutos
bronquíolos respiratórios, dos quais provém
os condutos alveolares (Fig. 4.1). Estes
se abrem em dilatações chamadas
sáculos alveolares formados pelos alvéolos
pulmonares, local onde se processa a oxigenação
e a eliminação do dióxido de carbono
do sangue. Chamamos de ácinos à
estrutura em forma de cachos de uvas que,
na verdade, são conjuntos de condutos,
sáculos e alvéolos. Essas estruturas são sustentadas
por uma fina trama de fibras musculares
e envoltas por vasos capilares.
A função respiratória se processa mediante
três atividades distintas, mas coordenadas:
a ventilação, através da qual o ar
da atmosfera chega aos alvéolos; a perfusão,
processo pelo qual o sangue venoso
procedente do coração chega aos capilares
dos alvéolos, e a difusão, processo em que o
oxigênio do ar contido nos alvéolos passa
para o sangue ao mesmo tempo em que o
gás carbônico contido no sangue passa
para os alvéolos.
A troca de moléculas gasosas se processa
através da parede alveolar, do líquido
intersticial contido nos espaços entre
alvéolos e capilares, da parede do capilar,
do plasma sanguíneo e da membrana dos
glóbulos vermelhos.
Os alvéolos são pequenas bolsas agrupadas
em torno dos bronquíolos respirató-
rios, cuja forma e distribuição lembram
uma colméia (Fig. 4.2). Graças à esta disposição,
uma enorme superfície pode ocupar
um volume comparativamente pequeno,
à semelhança da distribuição da rede
capilar. Assim, um alvéolo, que é a unidade
funcional da respiração, constitui-se de
uma bolsa de tecido pulmonar, contendo
ar e envolvida por capilares.
Separando o ar do sangue existe, portanto,
uma “parede”, constituida pela membrana
do alvéolo e pela membrana do capilar.
Esta parede é chamada membrana alvéolo-capilar,
e as trocas gasosas se fazem
através dela pelo processo de difusão.
Fig. 4.1. Molde do pulmão humano injetado com plástico.
O pulmão direito, mais claro, mostra a arborização
brônquica, até os bronquíolos. O pulmão esquerdo mostra
a arborização semelhante da artéria pulmonar e das veias
pulmonares. Dessa forma, o pulmão direito ilustra a
aeração e o pulmão esquerdo, a circulação.
Fig. 4.2. Esquema que demonstra a disposição dos alvéolos
em trono dos bronquíolos respiratórios. A forma e a
disposição simulam uma colméia.
76
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
Através a membrana alvéolo-capilar, o
sangue recebe o oxigênio, cede o gás
carbônico e prossegue pela outra extremidade
do capilar em direção às vênulas e
veias pulmonares onde, já oxigenado, vai
ao átrio esquerdo e ventrículo esquerdo,
para ser bombeado por todo o organismo.
O sangue que chega aos capilares pulmonares
pelos ramos da artéria pulmonar
destina-se, exclusivamente, às trocas gasosas.
A nutrição do tecido pulmonar, à semelhança
dos demais órgãos, é feita por um
sistema arterial independente, originado
das artérias brônquicas. A circulação
brônquica supre o parênquima pulmonar
com oxigênio para a sua nutrição. Cerca de
1/3 do sangue da circulação venosa
brônquica retorna ao átrio direito pelas
veias ázigos, hemiázigos e ramos intercostais.
Os 2/3 restantes drenam na circula-
ção pulmonar e retornam ao átrio esquerdo.
Esta pequena mistura venosa é chamada
de shunt verdadeiro.
A camada de sangue que se distribui
pelos capilares pulmonares é extraordinariamente
fina, da espessura de apenas uma
hemácia. A troca gasosa é, portanto, muito
rápida, durando em média 0,5 segundo.
O ar inspirado, que contém apenas 21% de
oxigênio, cede esse gás às hemácias, quase
instantaneamente.
A enorme superfície disponível para as
trocas gasosas permite que em um minuto
o organismo possa captar cerca de 250 ml.
de oxigênio e eliminar 200 ml. de gás
carbônico.
Por esta grande capacidade de eliminar
gás carbônico do sangue, o pulmão humano
é o mais importante regulador do equilíbrio
ácido-básico. A respiração pode
manter o pH dentro dos limites normais,
alterando a quantidade de gás carbônico
eliminado.
Os pulmões tem capacidade suficiente
para oxigenar até 30 litros de sangue venoso
por minuto, se necessário, para suprir
as necessidades do organismo. Como, em
condições normais, apenas 4 a 5 litros por
minuto atravessam o coração, verificamos
a grande reserva do pulmão humano para
as condições de exercício físico.
Nenhum sistema de oxigenação artificial
até hoje construido tem idêntica capacidade
de oxigenação ou reserva. Entretanto,
como as necessidades de oxigênio
durante a cirurgia equivalem às do indiví-
duo em repouso absoluto, os oxigenadores
são capazes de suprí-las integralmente.
VENTILAÇÃO PULMONAR
A ventilação é o processo de conduzir
o ar da atmosfera até os alvéolos pulmonares.
Nas fossas nasais e no nasofaringe existem
estruturas vasculares que aquecem e
umidificam o ar inspirado. As vias aéreas
superiores, acima dos bronquíolos respiratórios
tem suporte cartilaginoso. São
revestidas de epitélio colunar com um grande
número de células produtoras de muco,
que auxiliam na umidificação do ar e no
transporte de partículas inaladas, para expulsão
pelos movimentos ciliares e pela
tosse. À partir dos bronquíolos, até as unidades
respiratórias terminais não há suporte
de cartilagem. As bifurcações ocorrem a
curtos intervalos, até que os segmentos de
bronquíolos atravessam a parede alveolar,
para cada alvéolo individualmente.
77
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
A expansão e a retração dos pulmões
promove a entrada e a saída de ar do seu
interior, à semelhança de um fole. Dois
mecanismos são responsáveis pela movimentação
dos pulmões:
1. Os movimentos do diafragma, para
cima e para baixo, que fazem variar o volume
da caixa torácica. Para a inspira-
ção o diafragma traciona a superfície inferior
dos pulmões para baixo; para a
expiração, o diafragma simplesmente se
relaxa e a retração elástica dos pulmões,
da caixa torácica e as estruturas abdominais
comprimem os pulmões.
2. A elevação e o abaixamento das costelas
aumenta ou diminui o diâmetro anteroposterior
da caixa torácica, afastando o
esterno da coluna e tornando as costelas
mais horizontais, alavancadas pelos músculos
intercostais.
A movimentação da caixa torácica produz
variações na pressão das vias respiratórias.
Na inspiração, a pressão intraalveolar
torna-se ligeiramente negativa em
relação à pressão atmosférica, alcançando
cerca de -1 mmHg. Isso faz o ar penetrar
através das vias respiratórias. Na expiração
normal, a pressão intra-alveolar se eleva
aproximadamente +1 mmHg, fazendo o ar
sair através das vias respiratórias. Durante
a respiração forçada as pressões podem alcançar
o valor de 100mmHg, durante uma
expiração máxima com a glote fechada.
Pode ainda alcançar -80 mmHg, durante
uma inspiração forçada.
A tendência natural dos pulmões é de
colapsar e se afastar da parede torácica. Esta
tendência se deve a dois fatores. O primeiro
são as fibras elásticas abundantes no tecido
pulmonar, que se estiram com a insuflação
pulmonar e retomam seu comprimento original,
logo em seguida. O segundo é a tensão
superficial do líquido que reveste internamente
os alvéolos, que faz com que os mesmos
mantenham a tendência ao colapso.
Esse efeito decorre da atração entre as molé-
culas do líquido que, continuamente, tendem
a diminuir a superfície de cada alvéolo.
As fibras elásticas contribuem com um ter-
ço da tendência de retração pulmonar, enquanto
a tensão superficial contribui com
os dois terços restantes.
O espaço pleural mantém permanentemente
uma pressão negativa no seu interior,
que impede o colapso dos pulmões.
Esta pressão negativa oscila em torno de -
4 mmHg. Na inspiração profunda a pressão
negativa intrapleural pode atingir a -
18 mmHg, que promove a expansão pulmonar
máxima.
A tendência à retração determinada
pela fina camada líquida que reveste a superfície
dos alvéolos é contrabalançada por
uma mistura de lipoproteinas chamada surfactante,
secretada por células especiais,
existentes no epitélio de revestimento dos
alvéolos. Os componentes mais importantes
do surfactante são os fosfolipídios,
como o dipalmitol-lecitina, o dipalmitol
fosfatidilcolina, as proteínas e os íons cálcio.
O surfactante tem a propriedade de
diminuir a tensão superficial do líquido que
reveste os alvéolos, favorecendo a sua expansão.
Na ausência de surfactante a expansão
pulmonar torna-se difícil e exige
pressões pleurais muito negativas, da ordem
de -25 mmHg, para superar a tendência
ao colabamento dos alvéolos. O surfac-
78
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
tante forma uma camada monomolecular
sobre o líquido que reveste os alvéolos e
evita a existência de uma interface águaar,
que possui uma tensão superficial duas
a 14 vezes maior do que a interface surfactante-ar.
Alguns recém-natos, principalmente
os prematuros, não secretam quantidades
adequadas de surfactante, o que torna
muito difícil a expansão pulmonar. Sem
tratamento imediato e cuidadoso, a maioria
destes bebês morre logo após o nascimento,
devido à ventilação pulmonar inadequada.
Essa condição denomina-se
membrana hialina ou síndrome de angústia
respiratória do recém-nato.
No pulmão normal, quando há quantidades
adequadas de surfactante, a tensão
superficial é grande o bastante para afastar
o líquido da parede com uma pressão
média de -3 mmHg. Na ausência de surfactante,
essa força pode elevar-se até -10 ou
-20 mmHg, suficiente para causar filtração
maciça de líquido dos capilares para dentro
dos alvéolos. Isto constitui edema pulmonar,
em conseqüências da falta de surfactante.
Na síndrome de angústia respiratória
do recém-nascido, um grande
número de alvéolos está cheio de líquido,
constituindo um fator de agravamento do
quadro respiratório.
COMPLACÊNCIA PULMONAR
Para expandir os pulmões é necessário
um mínimo de esforço, que ocorre naturalmente,
na atividade da respiração. A maior
ou menor capacidade de expansão pulmonar
é conhecida como complacência.
Quando a capacidade de expandir está
diminuida, diz-se que o pulmão tem a complacência
reduzida, ou, em outras palavras,
um pulmão com a complacência reduzida
se expande com mais dificuldade.
As condições que destroem o tecido
pulmonar, produzem fibrose ou edema, ou
que impeçam a expansão e retração pulmonar,
tendem a diminuir a complacência.
As alterações produzidas pela cirurgia
na caixa torácica contribuem para reduzir
a complacência do tórax. A circulação extracorpórea,
por diversos mecanismos, também
contribui para reduzir a complacência
pulmonar, no pós-operatório imediato.
VOLUMES E CAPACIDADES
PULMONARES
A ventilação pulmonar pode ser medida
pela determinação dos volumes de ar existente
nos pulmões, em diferentes circunstâncias.
O estudo das alterações nos volumes
pulmonares é feito pela espirometria.
Para avaliar a ventilação consideramse
os seguintes volumes pulmonares: volume
corrente, volume de reserva inspirató-
rio, volume de reserva expiratório e o volume
residual.
Volume corrente (VC) é o volume de
ar inspirado ou expirado em cada respira-
ção normal. Corresponde a aproximadamente
500 ml em um adulto médio, do sexo
masculino.
Volume de reserva inspiratório (VRI)
é o volume extra de ar que pode ser inspirado,
além do volume corrente normal,
durante a inspiração máxima forçada. Corresponde
a cerca de 3.000 ml. Isto significa
que durante um período de respiração
tranquila, se produzirmos uma inspiração
79
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
máxima, chamada “suspiro”, podemos inspirar
um volume adicional de 3 litros de ar.
Volume de reserva expiratório (VRE)
é a quantidade de ar que ainda pode ser
expirada, por uma expiração forçada, após
o final da expiração corrente normal. Este
volume é de cerca de 1.100 ml.
Volume residual (VR) é o volume de
ar que permanece nos pulmões após uma
expiração forçada. Este volume é em mé-
dia de 1.200 ml.
As combinações de dois ou mais volumes
são chamadas de capacidades pulmonares.
As principais capacidades pulmonares
são: capacidade inspiratória, capacidade
residual funcional, capacidade vital e a capacidade
pulmonar total.
Capacidade inspiratória é a quantidade
de ar que pode ser inspirado, quando a
inspiração começa ao nível expiratório
normal e distende os pulmões ao máximo.
Equivale a cerca de 3.500 ml e corresponde
à soma do volume corrente e do volume
de reserva inspiratória.
Capacidade residual funcional é a
quantidade de ar que permanece nos pulmões
ao final de uma expiração normal.
Equivale a cerca de 2.300 ml e corresponde
à soma do volume de reserva expiratório
com o volume residual.
Capacidade vital é a quantidade má-
xima de ar que um indivíduo pode expelir
dos pulmões após uma inspiração máxima,
seguida de uma expiração máxima. Equivale
a cerca de 4.600 ml e corresponde à
soma do volume de reserva inspiratório com
o volume de reserva expiratório.
Capacidade pulmonar total é o volume
máximo com o qual os pulmões podem se
expandir com o maior esforço inspiratório
possível. Corresponde a cerca de 5.800 ml.
Os volumes e as capacidades pulmonares
são cerca de 20 a 25% menores no
sexo feminino e são maiores nos indivíduos
de maior porte físico e nos atletas.
A ventilação pulmonar é realizada quase
totalmente pelos músculos da inspiração.
Ao relaxar os músculos inspiratórios, as propriedades
elásticas dos pulmões e do tórax
fazem com que os pulmões se retraiam passivamente.
Quando os músculos inspiratórios
se acham totalmente relaxados, os pulmões
retornam a um estado de relaxamento denominado
nível expiratório de repouso. O
volume de ar nos pulmões, neste nível, é igual
à capacidade residual funcional, cerca de
2.300 ml. no adulto jovem.
O volume residual representa o ar que
não pode ser removido dos pulmões, mesmo
através de uma expiração forçada. É
importante porque mantém ar dentro dos
alvéolos, que por sua vez fazem a aeração
do sangue nos intervalos das respirações.
Não fosse o ar residual, a concentração de
dióxido de carbono no sangue aumentaria
e cairia muito em cada respiração e certamente
seria desvantajoso para o processo
respiratório.
O volume-minuto respiratório é a
quatidade total de ar novo que entra nas
vias respiratórias a cada minuto e equivale
ao produto do volume corrente pela freqü-
ência respiratória. O volume corrente normal
é de cerca de 500 ml. e a freqüência
respiratória normal é de 12 respirações por
minuto. Portanto, o volume-minuto respiratório
é, em média, de 6 litro por minuto,
e pode ser aumentado, pelo aumento da
80
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
freqüência respiratória ou do volume corrente,
conforme as necessidades do indiví-
duo.
A ventilação alveolar é o fator mais
importante no processo ventilatório pulmonar.
Representa a velocidade com que
o ar alveolar é renovado a cada minuto
pelo ar atmosférico, na área de trocas gasosas
dos pulmões – os alvéolos, os sacos
alveolares, os dutos alveolares e os bronquíolos
respiratórios. A ventilação alveolar
por minuto não é igual ao volume respiratório
por minuto, porque uma grande por-
ção do ar inspirado vai encher as vias aéreas,
cujas membranas não são capazes de
trocas gasosas significativas com o sangue.
Durante a inspiração, apenas uma pequena
parte do ar inspirado realmente flui
além dos bronquíolos terminais para os alvéolos.
No momento em que o ar inspirado
chega nas pequenas passagens aéreas, a
área total transversal das vias aéreas é tão
grande e a velocidade do fluxo tão pequena,
que a velocidade de difusão do ar se
torna maior que a do fluxo. Além disso, o
ar novo inspirado e o ar contido nos alvéolos,
tornam-se completamente misturados
numa fração de segundo.
O ar que preenche as vias respiratórias
a cada respiração é denominado ar do
espaço morto. Na inspiração, grande parte
de ar novo deve inicialmente preencher as
diferentes regiões do espaço morto: vias
nasais, faringe, traquéia e brônquios, antes
de atingir os alvéolos. Na expiração,
todo ar do espaço morto é expirado primeiro,
antes que qualquer ar dos alvéolos
atinja a atmosfera. O volume de ar que
entra nos alvéolos incluindo os dutos
alveolares e bronquíolos respiratórios a
cada respiração, é igual ao volume corrente
menos o volume do espaço morto. O espaço
morto em um adulto jovem é de cerca
de 150 ml. Esse valor aumenta um pouco
com a idade.
Com um volume corrente de 500 ml
e o espaço morto de 150 ml e uma freqü-
ência respiratória de 12 por minuto, a
ventilação alveolar é igual a 12 x (500-
150) = 4.200 ml por minuto. A ventila-
ção alveolar é um dos principais fatores
que determinam a concentração de oxigênio
e dióxido de carbono nos alvéolos.
A freqüência respiratória, o volume corrente
e o volume minuto respiratório são
importantes na medida em que afetam a
ventilação alveolar.
A ventilação dos oxigenadores é fixa,
não há espaço morto, uma vez que o gás
circula sempre no mesmo sentido. A manutenção
dos níveis fisiológicos do dióxido
de carbono é mais difícil, na ventilação dos
oxigenadores, pela ausência de mecanismos
de proteção e de regulação.
PERFUSÃO PULMONAR
O fluxo sanguíneo que atravessa os
pulmões, no coração normal, corresponde
ao débito cardíaco e, portanto, os fatores
que controlam o débito ventricular esquerdo,
controlam igualmente o débito do ventrículo
direito. A pós-carga do ventrículo
direito é determinada pelas condições da
vasculatura pulmonar. Quando ocorrem
vasoconstrição pulmonar, a resistência pulmonar
aumenta e, em consenquência, o
débito ventricular direito pode sofrer redução.
Ao contrário, a vasodilatação pul-
81
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
monar funciona como um redutor da póscarga
e, sob certas condições, pode favorecer
o aumento do fluxo sanguíneo pulmonar.
A perfusão dos alvéolos, para as trocas
gasosas ao nível da membrana alveólo-capilar,
é feita pelo ventrículo direito, através os
ramos principais da artéria pulmonar, que se
dividem continuamente, acompanhando as
bifurcações do sistema brônquico, até chegar
ao novelo de capilares que envolve os alvéolos.
Esse verdadeiro novelo capilar constitui
um envoltório que permite recobrir a
superfície de trocas gasosas dos alvéolos
com uma ampla camada de sangue, capaz
de favorecer acentuadamente o intercâmbio
dos gases. O retorno do sangue oxigenado
e depurado do dióxido de carbono,
se faz pelos terminais venosos dos capilares
e venulas, que vão formar as veias pulmonares,
direitas e esquerdas, que desembocam
no átrio esquerdo.
DIFUSÃO PULMONAR
A difusão dos gases consiste na livre
movimentação das suas moléculas entre
dois pontos. As moléculas dos gases estão
em permanente movimento, em alta velocidade,
e colidem ininterruptamente, umas
com as outras, mudando de direção, até
colidir com novas moléculas. Esse processo
gera a energia utilizada para a difusão.
A difusão de gases ocorre da mesma forma,
no interior de uma massa gasosa, nos
gases dissolvidos em líquidos como água ou
sangue, ou através de membranas permeá-
veis aos gases.
Se em um quarto completamente fechado,
introduzirmos através da porta, um
determinado volume de um gás, ao final de
algum tempo, a concentração do gás será a
mesma em todos os pontos do quarto. Isto
se explica pela difusão do gás, no ambiente
em que foi colocado.
A difusão, portanto, é um processo que
tende a igualar a diferença de concentra-
ção de uma substância, pela migração de
moléculas da área de maior concentração
para a área de menor concentração.
A pressão exercida por um gás sobre
uma superfície, é o resultado do impacto
constante das moléculas do gás em permanente
movimento, contra a referida superfície.
Quanto maior o número de moléculas
do gás, ou seja, quanto maior a sua concentração,
tanto maior será a pressão
exercida pelo gás.
Nas misturas gasosas, como o ar atmosférico,
a pressão exercida pela mistura
equivale à soma das pressões exercidas por
cada gás que compõe a mistura. Como a
pressão de cada gás depende da movimentação
das suas moléculas, a pressão
exercida pelo gás tem relação direta com a
sua concentração na mistura.
A pressão dos gases é habitualmente
expressa em milímetros de mercúrio
(mmHg). O padrão de comparação da
pressão dos gases é a pressão barométrica
ou pressão atmosférica.
A pressão atmosférica ao nível do mar,
corresponde a 760 mmHg, equivalente à 1
atmosfera. Esse valor constitui a soma das
pressões exercidas pelos gases que compõem
o ar: nitrogênio, oxigênio, dióxido de
carbono e vapor dágua.
A pressão exercida por cada gás em
uma mistura é chamada pressão parcial, ou
82
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
simplesmente tensão e é representada pela
letra P (maiúscula), seguida da designação
química do gás. Portanto, as pressões parciais
dos gases do ar atmosférico são designadas
pelos termos PO2, PCO2, PN2, PH2O, referindo-se
respectivamente às pressões
parciais do oxigênio, do dióxido de carbono,
do nitrogênio e do vapor d’água.
A tabela 4.1 representa a concentra-
ção e a pressão parcial dos gases no ar atmosférico.
Do mesmo modo que ocorre em rela-
ção ao ar atmosférico a convenção internacionalmente
estabelecida para a representação
das pressões parciais dos gases
consiste na letra P (maiúscula) seguida da
designação do gás. Entre ambas é inserida
a informação do fluido que contém o gás.
Desse modo, PaO2
representa a pressão
parcial do oxigênio no sangue arterial;
PvCO2
representa a pressão parcial do
dióxido de carbono no sangue venoso. E
assim, sucessivamente.
Quando um gás sob pressão é colocado
em contacto com a água, as suas molé-
culas penetram na água e se dissolvem, até
atingir o estado de equilíbrio, em que a
pressão do gás dissolvido na água é exatamente
igual à sua pressão na fase gasosa.
A concentração de um gás em uma solução
depende do seu coeficiente de solubilidade.
Alguns tipos de moléculas são fí-
sica ou químicamente atraidas pela água,
enquanto outros tipos são repelidos.
Quando as moléculas são atraidas pela
água, uma maior quantidade pode se dissolver
nela. Os gases que se dissolvem em
maior quantidade na água, tem, portanto,
um maior coeficiente de solubilidade. O
dióxido de carbono tem um elevado coeficiente
de solubilidade, quando comparado
ao oxigênio e outros gases.
Quando uma mistura de gases entra em
contato com a água, como ocorre no organismo
humano, esta tem propensão a evaporar
para dentro da mistura gasosa e
umidificá-la. Isto resulta do fato de que as
moléculas de água, como as dos gases dissolvidos,
estão continuamente escapando
da superfície aquosa para a fase gasosa. A
pressão que as moléculas de água exercem
para escapar através da superfície aquosa
é chamada pressão do vapor d’água, que à
temperatura de 37o C é de 47 mmHg. A
pressão do vapor d’água, da mesma forma
que a pressão parcial de qulaquer gás, tende
a aumentar com a temperatura. Aos 100o
C, temperatura de ebulição da água, a pressão
do vapor d’água é de 760 mmHg.
Embora a diferença de pressão ou de
concentração e o coeficiente de solubilidade
sejam importantes na difusão dos gases,
outros fatores influem na velocidade
da difusão, como o peso molecular do gás,
a distância a percorrer para equalizar a
concentração e a área da superfície disponível
para a difusão. Quanto maior o peso
molecular do gás, menor a velocidade com
que a sua difusão se processa; quanto maior
a distância a ser percorrida pelas molé-
Tabela 4.1. Pressão parcial e concentração dos gases no
ar atmosférico.
83
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
culas do gás, mais lentamente se processará
o equilíbrio de sua concentração e, quanto
maior a superfície disponível para a difusão
de um gás, maior será a velocidade
da difusão. Este princípio é de muita utilidade
no cálculo da área ideal das membranas
nos oxigenadores, em relação ao fluxo
de sangue, para resultar em uma efetiva
troca de gases.
As características gerais da difusão dos
gases permitem quantificar a rapidez com que
um determinado gás pode se difundir, denominada
coeficiente de difusão. O oxigênio pelas
suas características de difusão nos organismos
vivos tem o coeficiente de difusão 1.
A difusão dos demais gases é quantificada em
relação ao oxigênio. A tabela 4.2 lista os coeficientes
de difusão para diversos gases.
Os gases respiratórios tem grande solubilidade
em gorduras e, por essa razão,
podem difundir com facilidade através das
membranas celulares, ricas em lipídeos. A
velocidade de difusão de um determinado
gás no interior das células e tecidos, inclusive
a membrana respiratória, depende basicamente
da sua velocidade de difusão na
água, já que a passagem pela membrana
celular praticamente não oferece obstáculo.
A difusão dos gases respiratórios através
a membrana alveolo-capilar e através
dos demais tecidos do organismo, se processa
de acordo com o coeficiente relativo
de difusão. Aqueles dados nos indicam que
o CO2
se difunde cerca de 20 vêzes mais
rapidamente do que o oxigênio.
O AR ALVEOLAR
A concentração dos diferentes gases no
ar dos alvéolos não é exatamente a mesma
do ar atmosférico. O ar alveolar não é completamente
renovado a cada respiração;
parte do oxigênio do ar alveolar é continuamente
transferido ao sangue e o dióxido
de carbono do sangue é continuamente
transferido ao ar alveolar. Além disso, o ar
atmosférico seco que penetra nas vias respiratórias
é umidificado nas vias aéreas
superiores. Isto faz com que o ar alveolar
tenha menor teor de oxigênio e maior teor
de dióxido de carbono e de vapor d’água.
A tabela 4.3 mostra a comparação entre a
composição do ar atmosférico e o ar
alveolar.
O oxigênio é continuamente absorvido
no sangue dos alvéolos pulmonares enTabela
4.2. Coeficientes Relativos de Difusão dos Gases.
Tabela 4.3. Comparação da composição do ar alveolar com o ar atmosférico.
84
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
quanto novo oxigênio atmosférico entra
nos alvéolos. Quanto maior a rapidez com
que o oxigênio é absorvido, tanto menor
se torna a sua concentração nos alvéolos;
por outro lado, quanto mais rapidamente
o oxigênio da atmosfera é levado aos alvé-
olos, maior se torna a sua concentração.
Por isso, a concentração do oxigênio nos
alvéolos, bem como sua pressão parcial, é
controlada, primeiro, pela velocidade de
absorção do oxigênio para o sangue e, segundo,
pela velocidade de entrada de novo
oxigênio para os pulmões pelo processo
ventilatório.
O dióxido de carbono é continuamente
formado no organismo e, então, descarregado
nos alvéolos, sendo removido destes
pela ventilação pulmonar. Portanto, os
dois fatores que determinam a concentra-
ção alveolar do dióxido de carbono e, também,
sua pressão parcial no sangue
(PaCO2
) são a velocidade de eliminação
do dióxido de carbono para os alvéolos e a
velocidade com que o dióxido de carbono
é removido dos alvéolos pela ventilação
alveolar. O teor de CO2
do ar alveolar aumenta
em proporção direta com a eliminação
de dióxido de carbono do sangue e,
o teor de CO2
do ar alveolar diminui na
proporção inversa da ventilação alveolar.
DIFUSÂO DOS GASES ATRAVÉS
DA MEMBRANA RESPIRATÓRIA
A unidade respiratória dos pulmões é
constituida por um bronquíolo respiratório,
o alvéolo e o capilar. As paredes alveolares
são extremamente finas e nelas existe uma
extensa rede de capilares intercomunicantes.
Isto faz com que o ar alveolar e o sangue estejam
muito próximos um do outro, favorecendo
as trocas gasosas (Fig. 4.3).
A troca de gases entre o sangue e o ar
alveolar ocorre através da membrana alvéolo-capilar
das porções terminais dos pulmões.
Estas membranas, no seu conjunto são denominadas
de membrana respiratória.
A membrana respiratória, embora extraordinariamente
fina e permeável aos gases,
tem uma estrutura constituida por vá-
rias camadas, conforme demonstrado na figura
4.4. A membrana respiratória tem na
sua constituição, o endotélio capilar, uma camada
unicelular de células endoteliais e a
sua membrana basal que a separa da membrana
basal do epitélio alveolar pelo espaço
intersticial, a camada epitelial de revestimento
do alvéolo que é revestida por uma outra
camada líquida que contém o surfactante.
Fig. 4.3. Esquema do alvéolo. Representa o bronquíolo
respiratório, o capilar ramo da artéria pulmonar (sangue
venoso) e o capilar ramo da veia pulmonar (sangue
oxigenado).
85
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
A espessura da membrana respiratória é de
apenas 0,5 m, em média. A área total estimada
da membrana respiratória de um
adulto é de pelo menos 70 m2
. Apesar dessa
enorme área disponível, o volume total
de sangue nos capilares em qualquer instante
é de apenas 60 a 140 ml. Esse pequeno
volume de sangue é distribuido em tão
ampla superfície, em uma camada extremamente
fina, de vez que o diâmetro mé-
dio dos capilares pulmonares é de apenas
8 m. As hemácias são espremidas para atravessar
os capilares, o que coloca a sua superfície
em contato direto com a parede
dos capilares, portanto, com a membrana
respiratória, o que favorece as trocas gasosas.
A membrana das hemácias costuma
tocar a parede capilar, de formas que o oxigênio
e o dióxido de carbono não necessitam
passar por quantidades significativas
de plasma durante a difusão.
A facilidade com que os gases atravessam
a membrana respiratória, ou seja, a
velocidade de difusão dos gases, depende
de diversos fatores, tais como a espessura
da membrana, a área de superfície da membrana,
o coeficiente de difusão do gás na
substância da membrana e a diferença de
pressão entre os dois lados da membrana.
A velocidade de difusão é inversamente
proporcional à espessura da membrana.
Assim, quando se acumula líquido de
edema no espaço intersticial da membrana
e nos alveólos, os gases devem difundirse
não apenas através da membrana mas
também através desse líquido,o que torna
a difusão mais lenta. A circulação extracorpórea
pode causar alterações pulmonares
que levem ao aumento da água intersticial
e alveolar, causando dificuldades respiratórias
no pós perfusão imediato ou no
pós-operatório.
Pelas suas características especiais, a velocidade
de difusão dos gases na membrana
respiratória é praticamente igual à velocidade
da difusão na água. O dióxido de carbono
se difunde 20 vêzes mais rápido do que o
oxigênio, que, por seu turno, se difunde
duas vêzes mais rápido que o nitrogênio.
A diferença de pressão através da membrana
respiratória é a diferença entre a pressão
parcial do gás no alvéolo e a sua pressão
parcial no sangue. Esta diferença de
pressão representa a tendência efetiva para
o gás se mover através da membrana.
Quando a pressão parcial do gás nos alvé-
olos é maior do que no sangue, como no
Fig. 4.4. Esquema da membrana respiratória,
demonstrando as diversas camadas que a constituem,
conforme a descrição do texto.
86
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
caso do oxigênio, ocorre difusão resultante
dos alveólos para o sangue. Quando a
pressão parcial do gás no sangue é maior
do que no ar dos alvéolos, como é o caso
do dióxido de carbono, ocorre difusão do
gás do sangue para os alvéolos.
A capacidade global da membrana respiratória
para permutar um gás entre os alvéolos
e o sangue pulmonar pode ser expressa
em termos de sua capacidade de difusão,
definida como o volume de gás que
se difunde através da membrana a cada
minuto, para uma diferença de pressão de
1 mmHg.
Num adulto jovem a capacidade de difusão
para o oxigênio, em condições de repouso
é de 21 ml por minuto e por mmHg.
A diferença média de pressão do oxigênio
através da membrana respiratória é de aproximadamente
11 mmHg, durante a respiração
normal. O produto da multiplicação
da diferença de pressão pela capacidade de
difusão (11 x 21) é de cerca de 231 ml. Isto
significa que a cada minuto a membrana
respiratória difunde cerca de 230 ml de oxigênio
para o sangue, que equivale ao volume
de oxigênio consumido pelo organismo.
O exercício pode aumentar a capacidade
de difusão em até 3 vêzes.
A capacidade de difusão do dióxido de
carbono é de difícil determinação, devido
à dificuldades técnicas e à grande velocidade
de difusão do gás, mesmo com gradientes
de pressão de apenas 1 mmHg. Estima-se,
contudo, que a capacidade de difusão
do dióxido de carbono seja de 400 a
450 ml por minuto, em condições de repouso,
podendo atingir a 1200 ou 1300 ml
durante o exercício. Essa elevada capacidade
de difusão do dióxido de carbono, é
importante quando a membrana respiratória
se torna lesada. A sua capacidade em
transferir oxigênio ao sangue é prejudicada
ao ponto de causar a morte do indiví-
duo, antes que ocorra grave redução da
difusão do dióxido de carbono.
Quando determinadas doenças pulmonares,
potencialmente reversíveis, amea-
çam a vida pela redução da capacidade de
difusão do oxigênio, costuma-se indicar a
assistência respiratória prolongada, que
sustenta a oxigenação do paciente pela circulação
extracorpórea, até que o tratamento
da doença pulmonar possa recuperar, ao
menos parcialmente, a capacidade de difusão
da membrana respiratória e o paciente
volte a respirar com seus próprios pulmões.
Essa modalidade de tratamento é
conhecida como ECMO, sigla para
extracorporeal membrane oxygenation,
que significa oxigenação extracorpórea com
membranas.
ALTERAÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE
A VENTILAÇÃO E A PERFUSÃO
É intuitivo que as trocas gasosas dependem
do contínuo movimento do ar
alveólar e do sangue, nos dois lados da
membrana respiratória. Se o sangue perfundir
os capilares alveolares não ventilados,
não haverá trocas gasosas, da mesma
forma que se o ar alveolar for renovado em
alvéolos não adequadamente perfundidos
também não haverá trocas gasosas eficientes.
Quando existe ventilação normal e fluxo
capilar normal, a troca de oxigênio e de
dióxido de carbono através da membrana
respiratória é ótima. O oxigênio é absorvi-
87
CAPÍTULO 4 – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA
do do ar inspirado de tal forma que a PO2
alveolar situa-se entre aquela do ar inspirado
e a do sangue venoso. Da mesma forma,
o dióxido de carbono é transferido do
sangue venoso para os alvéolos, o que faz a
PCO2
alveolar elevar-se a um nível entre
aquele do ar inspirado e o do sangue venoso.
Assim, em condições normais, a PO2
do ar alveolar tem em média, 104 mmHg.
e a PCO2
40 mmHg.
Qualquer desproporção entre a ventilação
e a perfusão pode comprometer a eficácia
das trocas gasosas nos pulmões. O
mesmo fenômeno pode ser observado em
oxigenadores de membranas, quando o
elemento que contém as membranas para
as trocas gasosas não é completamente
aproveitado. Este fenômeno é considerado
na construção dos oxigenadores de
membranas, para evitar os efeitos da desproporção
entre a ventilação e a perfusão
das membranas.
TRANSPORTE DE GASES
PARA OS TECIDOS
Uma vez que o oxigênio tenha se difundido
dos alvéolos para o sangue pulmonar,
ele é transportado, principalmente em
combinação com a hemoglobina para os
capilares dos tecidos, onde é liberado para
uso pelas células. A presença da hemoglobina
nas hemácias permite ao sangue transportar
30 a 100 vezes mais oxigênio do que
seria transportado apenas sob a forma de
oxigênio dissolvido na água do sangue.
Nas células teciduais, pelos processos
metabólicos, o oxigênio reage com vários
substratos para formar grandes quantidades
de dióxido de carbono que, por sua vez,
entra nos capilares teciduais e é transportado
de volta aos pulmões. O dióxido de
carbono, como o oxigênio, também se
combina com substâncias químicas no sangue,
o que aumenta o seu transporte em 15
a 20 vezes.
A difusão do oxigêno dos alvéolos para
o sangue dos capilares pulmonares, se processa
porque a pressão parcial do oxigênio
no ar alveolar é maior do que a pressão parcial
do oxigênio no sangue venoso. Nos tecidos,
o mecanismo de trocas é semelhante.
A pressão parcial do oxigênio nos tecidos
é baixa, em relação ao sangue dos
capilares arteriais, porque o oxigênio é continuamente
utilizado para o metabolismo
celular. Este gradiente é responsável pela
transferência de oxigênio do sangue dos
capilares para os tecidos. Assim, vemos que
o transporte dos gases, oxigênio e dióxido
de carbono pelo sangue, depende da difusão
e do movimento do sangue.
A PO2
do sangue venoso que entra no
capilar pulmonar é de apenas 40 mmHg,
porque uma grande quantidade de oxigê-
nio foi removida desse sangue quando passou
através do organismo. A PO2
no alvé-
olo é de 104 mmHg, fornecendo uma diferença
de pressão inicial de 104 - 40 = 64
mmHg, para a difusão do oxigênio ao capilar
pulmonar. Quando o sangue venoso
atinge aproximadamente 1/3 do comprimento
do capilar pulmonar a sua PO2
já
está igual à PO2
do alvéolo. Portanto, o gradiente
médio de pressão parcial de oxigê-
nio é menor que o gradiente inicial acima
registrado. Na extremidade distal do capilar
pulmonar a PO2
do sangue já é de cerca
de 104 mmHg.
88
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
Normalmente o sangue arterial sistê-
mico é composto por 98 a 99% de sangue
oxigenado que passa pelos capilares pulmonares
e outros 1 a 2% de sangue pouco
oxigenado que passa através da circulação
brônquica, após nutrir os pulmões e ceder
oxigênio aos tecidos pulmonares. Desta
forma, embora o sangue que deixa os capilares
pulmonares tenha uma PO2
de 104
mmHg, ao misturar-se com o sangue do
retorno da circulação brônquica para alcançar
o átrio esquerdo, a PO2
é de aproximadamente
95 mmHg. Esta queda na PO2
representa efetivamente uma diminuição
de apenas 1% na concentração de oxigê-
nio, porque a afinidade da combinação do
oxigênio com a hemoglobina não é linear
à medida que se aproxima da saturação
completa; a PO2
varia consideràvelmente
para pequenas alterações na quantidade de
oxigênio ligado à hemoglobina.
O sangue arterial que penetra nos capilares
dos tecidos tem a PCO2
de 40
mmHg, enquanto a PCO2
do líquido intersticial
é de 45 mmHg. Devido ao elevado
coeficiente de difusão do dióxido de
carbono, a PCO2
do sangue no extremo
venoso do capilar rapidamente alcança os
45 mmHg, que representa a PCO2
do sangue
venoso de retorno ao coração direito.
O dióxido de carbono é transportado
pelo sangue para os pulmões em 3 estados
diferentes: 1. sob a forma de gás dissolvido,
correspondendo a 7% do total transportado;
2. sob a forma de íon bicarbonato,
correspondendo a 70% do total. O bicarbonato
é produto da reação do dióxido
de carbono com a água da hemácia, catalizada
pela anidrase carbônica, enzima que
acelera a reação cerca de 5.000 vêzes. O
ion hidrogênio resultante da reação é captado
pela hemoglobina; 3. combinado com
a hemoglobina, através de uma ligação quí-
mica facilmente reversível. Esta forma de
transporte corresponde à apenas 23% do total
de CO2
levado aos pulmões (Tabela 4.4).
A oxigenação e a eliminação do dióxido
de carbono nos oxigenadores, se processa
segundo os mesmos mecanismos físicos
e químicos das trocas de gases ao nível
dos alvéolos. A menor eficiência das trocas
nos oxigenadores, se deve à ausência
da membrana alvéolo-capilar e à grande
espessura das camadas de sangue nos mecanismos
dos oxigenadores, tanto de bolhas
como de membranas.
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