sábado, 25 de junho de 2016

Neuroanatomia# Anatomia do Tronco Encefálico

1.0 — GENERALIDADES 

    0 tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo. Na sua constituição entram corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras nervosas, que, por sua vez, se agrupam em feixes denominados tractos, fascículos ou lemniscos. Estes elementos da estrutura interna do tronco encefálico podem estar relacionados com relevos ou depressões de sua superfície, os quais devem ser identificados pelo aluno nas peças anatômicas com o auxílio das figuras e das descrições apresentadas neste capítulo. O conhecimento dos principais acidentes da superfície do tronco encefálico, como aliás de todo o sistema nervoso central, é muito importante para o estudo de sua estrutura e função. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou emitem fibras nervosas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão no tronco encefálico. A identificação destes nervos e de sua emergência do tronco encefálico é um aspecto importante do estudo deste segmento do sistema nervoso central. Convém lembrar, entretanto, que nem sempre é possível observar todos os nervos cranianos nas peças anatômicas rotineiras, pois freqüentemente alguns são arrancados durante a retirada dos encéfalos. O tronco encefálico se divide em: bulbo. situado caudalmente: no encéfalo ; e ponte, situada entre ambos. A seguir será feito o estudo da morfologia externa de cada uma destas partes 

                                                        

      — BULBO
    O bulbo raquídeo ou medula oblonga tem a forma de um tronco de cone, cuia extremidade menor continua caudalmente com a medula espinhal. Como não existe uma linha de demarcação nítida entre medula e bulbo, considera-se que o limite entre eles está em um plano horizontal que passa imediatamente acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical, o que corresponde ao nível do forame magno do osso occipital. O limite superior do bulbo se faz em um sulco horizontal visível no contorno ventral do órgão, o sulco bulbo-pontino, que corresponde à margem inferior da ponte. A superfície do bulbo é percorrida longitudinalmente por sulcos ora mais; ora menos paralelos, que continuam com os sulcos da medula. Estes sulcos delimitam as áreas anterior (ventral), lateral e posterior (dorsal) do bulbo, que, vistas pela superfície, aparecem como uma continuação direta dos funículos da medula. A fissura mediana anterior termina cranialmente em uma depressão denominada forame cego. De cada lado da fissura mediana anterior existe uma eminência alongada, a pirâ- mide, formada por um feixe compacto de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula, que será estudado com o nome de tracto córtico-espinhal ou tracto piramidal. Na parte caudal do bulbo, fibras deste tracto cruzam obliquamente o plano mediano em feixes interdigitados que obliteram a fissura mediana anterior e constituem a decussação das pirâmides. Entre os sulcos lateral anterior e lateral posterior temos a área lateral do bulbo, onde se observa uma eminência oval, a oliva, formada por uma grande massa de substância cinzenta, o núcleo olivar inferior, situado logo abaixo da superfície. Ventralmente à oliva emergem do sulco lateral anterior os filamentos radiculares do nervo hipoglosso, XII par craniano. Do sulco lateral posterior emergem os filamentos radiculares, que se unem para formar os nervos glossofaríngeo (IX par) e vago (X par), além dos filamentos que constituem a raiz craniana ou bulbar do nervo acessório (XI par), a qual se une com a raiz espinhal, proveniente da medula . A metade caudal do bulbo ou porção fechada do bulbo é percorrida por um estreito canal, continuação direta do canal central da medula. Este canal se abre para formar o IV ventrículo, cujo assoalho é em parte constituído pela metade rostral, ou porção aberta do bulbo. O sulco mediano posterior termina a meia altura do bulbo, em virtude do afastamento de seus lábios, que contribuem para a formação dos limites laterais do IV ventrículo. Entre este sulco e o sulco lateral posterior está situada a área posterior do bulbo,continuação do funículo posterior da medula e, como este, dividida em fascículo grácil e fascículo cuneiforme pelo sulco intermédio posterior. Estes fascículos são constituídos por fibras nervosas ascendentes, provenientes da medula, que terminam em duas massas de substância cinzenta, os núcleos grácil e cuneiforme, situados na parte mais cranial dos respectivos fascículos, onde determinam o aparecimento de duas eminências, o tubérculo do núcleo grácil, medialmente,. e o tubérculo do núcleo cuneiforme, lateralmente. Em virtude do aparecimento do IV ventrículo, os tubérculos do núcleo grácil e do núcleo cuneiforme afastam-se lateralmente como os dois ramos de um V e gradualmente continuam para cima com o pedúnculo cerebelar inferior (ou corpo restiforme). Este é formado por um grosso feixe de fibras que forma as bordas laterais da metade caudal do IV ventrículo, fletindo-se dorsalmente para penetrar no cerebelo 


















PONTE
    Ponte é a parte do tronco encefálico interposta entrego bulbo e o mesencéfalo. Está situada  ventralmente ao cerebelo e repousa sobre a rude da presença de numerosos feixes de fibras parte basilar do osso occipital e o dorso da sela transversais que a percorrem. Estas fibras contúrcica do esfenóide. Sua base, situada ventral- vergem de cada lado para formar um volumoso mente, apresenta estriação transversal em vir- feixe, o pedúnculo cerebelar médio (ou braçoda ponte), que penetra no hemisfério cerebelar correspondente. Considera-se como limite entre a ponte e o braço da ponte o ponto de emergência do nervo trigêmeo, V par craniano. Esta emergência se faz por duas raízes, uma maior, ou raiz sensitiva do nervo trigêmeo, e outra menor, ou raiz motora do nervo trigêmeo . Percorrendo longitudinalmente a superfície ventral da ponte existe um sulco, o sulco basilar, que geralmente aloja a artéria basilar. A parte ventral da ponte é separada do bulbo pelo sulco bulbo-pontino, de onde emergem de cada lado a partir da linha mediana o VI, VII e VIII pares cranianos. O VI par, nervo abducente, emerge entre a ponte e a pirâmide do bulbo. O VIII par, nerjo vestíbulo-coclear, emerge lateralmente, próximo a um pequeno lóbulo do cerebelo, denominado flóculo. O VII par, nervo facial, emerge medialmente ao VIII par, com o qual mantém relações muito íntimas. Entre os dois emerge o nervo intermédio, que é a raiz sensitiva do VII par, de identificação as vezes difícil nas peças de rotina. A presença de tantas raízes de nervos cranianos em uma área relativamente pequena explica a riqueza de sintomas observados nos casos de tumores que acometem esta área, levando à compressão dessas raízes e causando a chamada síndrome do ângulo ponto-cerebelar. A parte dorsal da ponte não apresenta linha de demarcação com a parte dorsal da porção aberta do bulbo, constituindo ambas o assoalho do IV ventriculo. 

4.0 — QUARTO VENTRÍCULO
 — SITUAÇÃO E COMUNICAÇÕES 
A cavidade do rombencéfalo tem uma forma losângica e é denominada quarto ventriculo, situado entre o bulbo e a ponte ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente. Continua caudalmente com o canal central do bulbo e cranialmente com o aqueduto cerebral, cavidade do mesencéfalo, através da qual o IV ventriculo, se comunica com o III ventriculo . A cavidade do IV ventriculo se prolonga de cada lado para formar os recessos laterais,situados na superfície dorsal do pedúnculo cerebelar inferior. Estes recessos se comunicam de cada lado com o espaço subaracnóideo por meio das aberturas laterais do IV ventriculo (forames de Luschka). Há também uma abertura mediana do IV ventriculo (forame de Magendie), situado no meio da metade caudal do tecto do ventriculo. Por meio destas cavidades o líquido cérebro-espinhal, que enche a cavidade ventricular, passa para o espaço subaracnóideo 
 4.2 — ASSOALHO DO IV VENTRÍCULO
    O assoalho do IV ventriculo, ou fossa rombóide, tem forma losângica e é formado pela parte dorsal da ponte e da porção aberta do bulbo. Limita-se ínfero-lateralmente pelos pedúnculos cerebelares inferiores e pelos tubérculos do núcleo grácil e do núcleo cuneiforme. Súpero-lateralmente limita-se pelos pedúhculos cerebelares superiores, ou braços conjuntivos, compactos feixes de fibras nervosas que, saindo de cada hemisfério cerebelar, fletem-se cranialmente e convergem para penetrar no mesencéfalo. O assoalho do IV ventriculo é percorrido em toda a sua extensão pelo sulco mediano, que se perde cranialmente no aqueduto cerebral e caudalmente no canal central do bulbo. De cada lado do sulco mediano há uma eminência, a eminência mediai, limitada lateralmente pelo sulco limitante. Este sulco, já estudado a propósito da embriologia do sistema nervoso central, separa os núcleos motores, derivados da lâmina basal e situados medialmente, dos núcleos sensitivos, VI, derivados da lâmina alar e situados lateralmente. De cada lado, o sulco limitante se alarga para consumir duas depressões, a fóvea superior e a fóvea inferior, situadas respectivamente nas metades cranial e caudal'da fossa rombóide. Medialmente à fóvea superior, a eminência mediai dilata-se para constituir de cada lado uma elevação arredondada, o coliculo facial, formado por fibras do nervo facial, que neste nível contornam o núcleo do nervo abducente. Na parte caudal da eminência mediai observa-se, de cada lado, uma pequena área triangular de vértice inferior, o trígono do nervo hipoglosso, correspondente ao núcleo do nervo hipoglosso. Lateralmente ao trígono do nervo hipoglosso e caudalmente à fóvea inferior, existe uma outra área triangular de coloração ligeiramente acinzentada, o trígono do nervo vago, que corresponde ao núcleo dorsal do vago*. Lateralmente ao sulco limitante e estendendose de cada lado em direção aos recessos laterais, há uma grande área triangular, a área vestibular, correspondendo aos núcleos vestibulares do nervo vestíbulo-coelear. Cruzando transversalmente a área vestibular para se perderem no sulco mediano, freqüentemente existem finas cordas de fibras nervosas que constituem as estrias medulares do IV ventrículo. Estendendo-se do fóvea superior em direção ao aqueduto cerebral, lateralmente à eminência mediai, encontra-se o locusceruleus, área de coloração ligeiramente escura cuja função se relaciona com o mecanismo do sono. 
4.3 — TECTO DO IV VENTRÍCULO 
 A metade cranial do tecto do IV ventrículo é constituída por uma fina lâmina de substância branca, o véu medular superior, que se estende entre os dois pedúnculos cerebelares superiores . Na constituição da metade caudal do tecto do IV ventrículo temos as seguintes formações : a) uma pequena parte da substância branca do nódulo do cerebelo; b) o véu medular inferior — formação bilateral constituída de uma fina lâmina branca presa medialmente as bordas late- •rais do nódulo do cerebelo; c) tela corióide do IV ventrículo (Fig. 5.2) — que une as duas formações anteriores as bordas da metade caudal do assoalho do IV ventrículo.** A tela corióide é formada pela união do epitélio ependimário, que reveste internamente o ventrículo, com a pia-máter, que reforça externamente este epitélio.*** A tela corióide emite projeções irregulares, e muito vascularizadas, que se invaginam na cavidade ventricular para formar o plexo corióide do IV ventrículo. A invaginação se dá ao longo de duas linhas verticais situadas próximo ao plano mediano, que encontram perpendicularmente com uma linha horizontal, que se dirige, de cada lado, para os recessos laterais. Assim, o plexo corióide do IV ventrículo tem em conjunto a forma de um T, cujo braço vertical é dupl. Os plexos corióides produzem o líquido cé- rebro-espinhal, que se acumula na cavidade ventricular passando ao espaço subaraenóideo através das aberturas laterais e da abertura mediana do IV ventrículo. Esta última, situada na parte caudal da tela corióide é de difícil visualização nas peças usuais. Através das aberturas laterais próximo do flóculo do cerebelo exterioriza-se uma pequena porção do plexo corióide do IV ventrículo.
5.0 — MESENCÉFALO 



5.1 — LIMITES E DIVISÃO 
  O mesencéfalo interpõe-se entre a ponte e o cérebro, do qual é separado por um plano que liga os corpos mamilares, pertencentes ao diencéfalo, à comissura posterior. É atravessado por um estreito canal, o aqueduto cerebral, que une o III ao IV ventrículo. Aparte do mesencéfalo situada dorsal mente ao aqueduto é o tecto do mesencéfalo ; ventralmente temos os dois pedúnculos cerebrais, que, por sua vez, se dividem em uma parte dorsal, predominantemente celular, o tegmento, e outra ventral, formada de fibras longitudinais, a base do pedúnculo . Em uma secção transversal do mesencéfalo vê-se que o tegmento é separado da base por uma área escura, a substância negra, formada por neurônios que contêm melanina. Correspondendo à substância negra na superfície do mesencéfalo existem dois sulcos longitudinais: um lateral, sulco lateral do mesencéfalo, e outro mediai, sulco mediai do pedúnculo cerebral. Estes sulcos marcam na superfície o limite entre base e tegmento do pedúnculo cerebral. Do sulco mediai emerge o nervo oculomotor. III par craniano

. 5.2 — TECTO DO MESENCÉFALO 

 Em vista dorsal, o tecto do mesencéfalo apresenta quatro eminências arredondadas, os colí- culos superiores e inferiores (corpos quadrigê- meos), separados por dois sulcos perpendiculares em forma de cruz . Na parte anterior do ramo longitudinal da cruz aloja-se o corpo pineal que, entretanto, pertence ao diencéfalo. Caudalmente a cada coliculo inferior emerge o IV par craniano, nervo troclear. muito delgado e por isto mesmo facilmente arrancado com o manuseio das peças. O nervo troclear, único dos pares cranianos que emerge dorsalmente, contorna o mesencéfalo para surgir ventralmente entre a ponte c o mesencéfalo. Cada coliculo se liga a uma pequena eminência oval do diencéfalo, o corpo geniculado, através de um feixe superficial de Obras nervosas que constitui o seu braço. Assim, o coliculo inferior se liga ao corpo geniculado mediai pelo braço do coliculo inferior, e ocoliculo superior, ao menos aparentemente, se liga ao corpo geniculado lateral pelo braço do coliculo superior, o qual tem parte do seu trajeto escondido entre o pulvinar do tálamo e o corpo geniculado medial (Fig. 5.2). O corpo geniculado lateral nem sempre é fácil de ser identificado nas peças; um bom método para encontrá- lo consiste em procurá-lo na extremidade do tracto óptico. 
5.3 — PEDÚNCULOS CEREBRAIS 
 Vistos ventralmente, os pedúnculos cerebrais aparecem como dois grandes feixes dc fibras que surgem na borda superior da ponte c divergem cranialmente para penetrar profundamente no cérebro. Delimitam, assim, uma profunda depressão triangular, a fossa interpeduncular, limitada anteriormente por duas eminências pertencentes ao diencéfalo, os corpos mamilares. O fundo da fossa interpeduncular apresenta pequenos orifícios para a passagem de vasos e denomina-se substância perfurada posterior. Como já foi exposto, do sulco longitudinal situado na face medial do pedúnculo, sulco medial do pedúnculo, emerge de cada lado o nervo oculomotor




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